A ERA DA ADAPTAÇÃO


Dieter Glemser, Hans Hahne, Clemens Schickentanz, Jochen Neerpasch, Gerhard Mitter, Helmut Kelleners, Jurgen Neuhaus, Jurgen Barth, Albrecht Krebs, Armin Hahne, Manfred Winkelhock, Klaus Ludwig, Klaus Niedzwiedz, Willy Kauhsen, Hans Hermann, John Winter, Volkert Merl, Hans Peter Joinstein,  Hartwig Bertrams, Georg Loos, Reinhold Jost, Jorg Obermoser, Hans Georg Burger, Christian Danner, Stefan Bellof…

Os pilotos acima compartilham diversos atributos. Primeiro, são todos alemães. Todos correram entre os anos 60 e 80. Todos tiveram sucesso nas pistas, nas 24 Horas de Le Mans, Mundial de Marcas, corridas de Turismo, campeonato alemão, europeu de Montanha, Intersérie, campeonato de 2 litros, campeonatos de GTs, mesmo em monostos, na F-3000, F-2, F-3, categorias menores. Um ou outro até correu na F1, porém, nenhum teve sucesso na categoria.

Entre a morte do Conde Wolfgang Von Trips, em 1961 e a primeira vitória de Michael Schumacher, em 1992, passaram-se 31 anos. Nesse ínterim, pilotos alemães na Fórmula 1 foram poucos. Somente Jochen Mass conseguiu uma vitória meia-boca no GP da Espanha de 1975, interrompido devido ao desastre envolvendo outro piloto alemão, Rolf Stommelen, que ali liderou seu único GP. Em 1977, um outro alemão, Hans Joachin Stuck, liderou as primeiras voltas do GP dos EUA do Leste. Isso, além da excelente performance de Jochen Mass em Nurburgring, 1976, onde liderou as primeiras voltas, foram as únicas instâncias em que pilotos alemães chegaram perto de outras vitórias na F-1, além da meia-vitória de Mass. Muito pouco para 31 anos.

A maioria dos especialistas achava que Von Trips ganharia com facilidade o campeonato de 1961. Era o mais rápido piloto da Ferrari, que tinha o melhor carro. Infelizmente, morreu em Monza, onde fizera a pole-position e seu companheiro de equipe, Phil Hill, acabou levando o caneco. Foi o início do grande jejum do protagonismo alemão na F-1.

Von Trips em 1961 - entre esse ano e 1992 pilotos da Alemanha tiveram participação secundária na F-1

Não foi por falta de números: o automobilismo foi durante o período um esporte amplamente praticado na Alemanha, em diversas categorias. Com certeza, milhares de pilotos tedescos tentaram ser, senão um novo Caraciolla ou Rosemeyer, pelo menos um novo Von Trips. Nenhum conseguiu.  De fato, em diversas temporadas nenhum piloto alemão disputou o campeonato inteiro. Não fosse pela corrida mixta de F-1 e F-2 em Nurburgring, em muitas temporadas não haveria participações de alemães no Mundial de Pilotos.

Hoje a história é outra. Desde 1994, campeonatos de F-1 foram ganhos por pilotos alemães doze vezes. E desde 1992 um piloto alemão é um plausível candidato a campeão do mundo (exceto 2005, 2007 e 2009).

Para os brasileiros, há luz no fundo do túnel, mas há trevas no caminho.

Neste ano, pela primeira vez desde 1970 não haverá um brasileiro no grid da F-1. Na Formula Indy a situação não é muito diferente – os únicos representantes confirmados, Tony Kanaan, e Matheus Leist, estão numa equipe fraca. Kanaan passou de uma equipe top para uma equipe que foi top um dia – a Foyt – pela última vez em 1979! Convenhamos, há pouca ou nenhuma chance de Tony transformar a Foyt em uma equipe top-3, apesar de todo seu talento e Leist, apesar de talentoso, é inexperiente.

A luz no fundo do túnel é que entre 1939 e 1961 os alemães também não tiveram sucesso no mundo dos GPs, depois de basicamente dominar o cenário nos anos 30. Depois de 1961, passaram 31 anos com participações esporádicas dos seus pilotos, uma única meia-vitória no seu currículo, umas poucas voltas na liderança, e ainda por cima, tendo que amargar a morte de um piloto que prometia muito, Stefan Bellof. Foi uma senhora magrela.

Agora o torcedor brasileiro de automobilismo terá, quiçás portanto tempo como os alemães, que se acostumar com vitórias (e mesmo participação) em outras categorias, que não seja a F-1. De fato, ainda há pilotos brasileiros em dezenas de campeonatos internacionais de bom nível, em alguns casos, tais pilotos têm obtido bons resultados, ganhando corridas e campeonatos.

Os brasileiros estão hoje, na mesma situação que os alemães entre 1961 e 1992.

Os brasileiros hoje são bons pilotos de protótipos, de GTs, carros de turismo. E da emergente Formula E. F-1, nem sonhar.

Como se adaptar a isso?

Os tifosi italianos há anos que sobrevivem sem ter um piloto do país como membro efetivo de uma equipe de F-1. Julgando pela imprensa local, isso pouco importa. Sim, a Ferrari ainda continua, forte como sempre, e agora até a Alfa Romeo entrou na briga. Não temos esse benefício. Porém, em termos de pilotos, a imprensa simplesmente fez um “upgrade” nos feitos dos seus pilotos nas corridas de monopostos fora da F-1, carros esporte, carros de turismo e GT. Uma recente edição da Autosprint dá a impressão de que a Itália ainda domina o mundo dos GPs,  como nos anos 20, parte dos anos 30, início dos anos 50. Por exemplo, um artigo sobre a corrida de Macau basicamente  se concentrava nos pilotos italianos participantes.


Resta saber se nós brasileiros, não conhecidos como bons perdedores, conseguiremos sobreviver com a ignomínia de não ter pilotos na categoria mais importante do esporte.  O papel da imprensa especializada será importante nessa fase de adaptação.  Tirar o foco da F-1, focar nas outras categorias. Ver o esporte sob uma ótica diferente, como os alemães viram durante longos 31 anos. Vejamos o que acontecerá nesta temporada. 

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