Um dia difícil para o Avallone



Antonio Carlos Avallone foi uma das mais importantes figuras do automobilismo brasileiro dos anos 60 e 70. Além de ter sido vencedor da primeira edição dos 1000 km de Brasília, Avallone correu com uma grande variedade de carros, em diversas categorias, desde carreteras até Fórmula Super Vê. Foi um dos primeiros brasileiros a se debandar para a Europa no final dos anos 60, e teve a coragem de encarar a Formula 5000, em vez de categorias menores. Criou a Copa Brasil, organizou inúmeras corridas com o Avallone Motor Clube, quase trouxe a F-5000 para o Brasil e eventualmente, produziu diversos carros de corrida, inclusive o Avallone Chrysler com o qual foi campeão brasileiro da Divisão 4, em 1973. Também produziu carros de Super-Vê e Fórmula Ford, que ganharam provas em todas as categorias em que correram. Eventualmente reduziu as suas atividades competitivas, voltando-se para a produção de carros de rua.

Nos idos de 1981 Avallone estava correndo na Stock Cars, além de disputar uma recém criada categoria em São Paulo, a Turismo 5000. Para esta última, categoria criada para pilotos um pouco mais avançados no quesito etário, Avallone havia preparado um Dojão.

Pois bem, no dia 7 de junho daquele ano estava se realizando a quarta etapa do Torneio Regional de Stockcars (Rio São Paulo), além de uma etapa da Turismo 5000 em São Paulo. Nosso herói estava inscrito em ambas as provas. Bem antes da largada da Stock-cars, Avallone estava levando seu carro de Turismo 5000 para os boxes, quando teve um entrevero com um dos fiscais no portão. De cordial colóquio a coisa se desenvolveu em uma cena de pugilato, e logo estava instalada a confusão. Eventualmente, os ânimos foram acalmados, e Avallone alinhou o seu Stock-car na última fila, no lugar devido, após colocar o Dojão nos boxes. Logo chegou outra “otoridade” e ordenou que Avallone voltasse aos boxes, pois estaria impedido de largar. Avallone não se deu por vencido, e dirigiu seu carro até a frente do grid, deixando-o enviezado, assumindo a posição “Daqui não saio, daqui ninguém me tira.”

Entra em cena um comissário desportivo, Carmine Maida, com dois policiais a tiracolo, dando ordem de prisão a Avallone. Os pobres guardas ficaram mais confusos quando Avallone também ordenou que prendessem Carmine. Instalou-se uma verdadeira confusão, e o tempo passando. Avallone impassível. Eventualmente o presidente da FPA raciocinou que deixassem Avallone largar na sua posição, bastava desclassifica-lo posteriormente. Pasmem, descobriram que Avallone nem estava inscrito na prova!!!

Eventualmente Avallone voltou para a sua posição devida na retaguarda do grid, quando um novo grupo de cartolas se dirigiu a ele. Escolado, antecipando mais problemas, resolveu voltar para frente do pelotão de largada, instalando a confusão novamente. O bate boca se reiniciou e Avallone voltou para trás. O vai-vém continuou, e o piloto foi para a frente do grid mais uma vez. Foi feita uma reunião, o irredutível Maida queria de todo jeito ver o carro rebocado e Avallone no xilindró. Quando Avallone saiu da reunião, os outros carros já estavam com os motores funcionando e a placa de dois minutos levantada. Avallone pensou em ficar de pé na frente do grid, em sinal de protesto, mas teve bom senso e resolveu partir dos boxes.

Na hora “h”, Avallone acabou partindo na frente de todo mundo, dos boxes mesmo, embora seu carro fosse bem lento. Foi sendo ultrapassado por diversos pilotos até ser alcançado por Sidney Alves. Este, muito irritado com as manobras defensivas do piloto à sua frente, começou uma cena de dar inveja a qualquer piloto da NASCAR, batendo no carro de Avallone até estraga-lo quase completamente. Certo que também estragou o seu bólido, mas havia adquirido a posição de herói do dia. Ao voltar para os boxes, agora quem precisava de escolta policial era Avallone, pois um linchamento não estava fora de cogitação. Sete viaturas protegeram a integridade física do piloto, mas não os restos do seu Opala e seu Dojão, recipientes da frustração da turbe. A polícia ainda tentou prender Avallone, mas este argumentou ser advogado, e a questão terminou em pizza com as autoridades policiais.

Mas não com os cartolas. A FPA acabou suspendendo o piloto durante seis meses.

Informações obtidas da revista Auto Esporte, edição n° 200, de Julho de 1981

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador baseado em Miami

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